Turismo brasileiro com marca de segurança

Identidade turística é a marca que os países exibem para fixar as características especiais de seus potenciais na área do turismo. Tradicionalmente, essa identidade tem sido construída com belezas naturais e recursos de valor histórico e cultural. Nos últimos anos, porém, um fator importante tem determinado o processo de decisão dos turistas: a segurança. Em virtude do surto de violência que invade espaços turísticos no mundo, particularmente em regiões de conflitos crônicos, como Oriente Médio, em virtude do risco de tragédias naturais, como a do Tsumani, os turistas têm procurado territórios mais pacíficos e menos sujeitos à insegurança.

O Brasil, infelizmente, não tem conseguido potencializar as condições de sua identidade turística por conta das ondas de violência que têm gerado insegurança por muitas regiões. Os fluxos do turismo internacional são ainda inexpressivos entre nós. Temos condições de duplicar, em curto prazo, o número de turistas estrangeiros, hoje em torno de 4,5 milhões, ou mesmo os 38 milhões de turistas do mercado interno. São contas muito pequenas quando se observa que o a indústria turística movimenta uma receita de US$ 500 bilhões anuais, 250 milhões de empregos, representando 10% do PIB mundial. O nosso turismo soma apenas 3% do PIB nacional, atingindo algo como US$ 20 bilhões, montante que poderia subir progressivamente, caso o país se esforçasse para sair do jardim de infância nas praças do turismo.

Para galgar posições mais elevadas, o Brasil precisa trabalhar a imagem do Turismo com Segurança. Mas a questão da segurança, como poucos percebem, não se relaciona apenas aos fatores exógenos das ondas de violência nas cidades, afetando e amedrontando os turistas. Implica, antes de tudo, no planejamento das próprias condições endógenas, ou seja, os ambientes internos, com as concepções de segurança nos equipamentos turísticos. O Brasil está se tornando um sério candidato a se transformar em um dos mais perigosos agentes turísticos do mundo. E a razão é triste: crescem assustadoramente os eventos negativos nos parques turísticos, com registros de acidentes fatais em escala crescente.

Ora, se isso ocorre é porque ainda estamos quase na pré-história do planejamento de segurança nos empreendimentos ligados ao turismo. Os nossos atrativos turísticos devem, sim, aumentar os fluxos a partir do momento em que a malha de segurança for acrescida aos fatores tão massificados pelo marketing, a partir do exotismo e das belezas naturais. Se o Brasil não souber boas vantagens do ciclo de conflitos que abarca parcela ponderável dos circuitos regionais, próximos às zonas de violência, estará perdendo grande oportunidade. É preciso virar o jogo, principalmente no momento em que a Argentina, que é um dos grandes eixos do nosso mercado, começa a se recuperar.

E o momento mais adequado para a conscientização sobre os aspectos de segurança é este do período de férias. Férias Seguras – é isso que mais deseja a família que se prepara para desfrutar das belezas e realizar as alegrias e expectativas de seus filhos. Turismo é um território povoado de sonhos e devaneios. As pessoas associam férias com lazer, liberdade, descanso, expressão plena de vida. Ora, esse conceito só se completa com o fator segurança. Por isso, os empreendedores, o trade, as redes envolvidas na malha do turismo não podem contemplar apenas o lucro. Há de se investir pesadamente na segurança do turismo, particularmente aqueles empreendimentos focados para o ecoturismo e turismo de aventura.

O Fundo Geral de Turismo (Fungetur), com suas linhas de crédito para facilitar aos investidores o acesso aos recursos para a implantação de projetos de melhoria, conservação e manutenção de empreendimentos e serviços turísticos, precisa inserir em suas normas a disposição e o compromisso de empreendedores com projetos de segurança. Esta é uma das reivindicações que a Associação Férias Vivas, entidade sem fins lucrativos e em defesa da segurança no turismo nacional, está fazendo junto às autoridades do Ministério do Turismo.

Se não conseguirmos implantar segurança no turismo brasileiro, continuaremos a vender beleza numa praça cada vez mais cheia de horrores.

Por Silvia Maria Basile
Arquiteta, é diretora presidente da Associação Férias Vivas.