PLANEJAMENTO TURÍSTICO NO MARANHÃO

Nesse artigo vamos juntos conhecer como a cidade de Carolina, localizada no estado do Maranhão, vem se destacando dentro do cenário do turismo e se tornou um destino referência para o setor.

A busca dos turistas por destinos no Maranhão tem crescido significativamente nos últimos anos. Esse resultado é fruto do trabalho realizado a longo prazo e é consequência de ações planejadas e executadas de forma eficiente pelo poder público do destino.

De acordo com Silvia Basile, fundadora da ONG Férias Vivas, que recentemente visitou os belos atrativos ecológicos do estado, os produtos são altamente qualificados pelas suas belezas naturais e pela atenção ao turismo seguro. Com suas diversas cachoeiras e atividades ao ar livre, o Maranhão atrai visitantes de diferentes partes do país, que são fascinados pela natureza.

Esse efeito vem de uma decorrência de estratégias pensadas em 2012 pelo Governo de Estado do Maranhão que constituiu o projeto Plano Maior 2020. Ele identificou o papel de cada um dos pólos no composto turístico do Maranhão, e estabeleceu caminhos e prioridades para o desenvolvimento turístico do estado, para que hoje, quase uma década à frente, esse trabalho fosse reconhecido.

Acompanhe a leitura e conheça como foi o processo de implementação de medidas de segurança nas empresas de um dos municípios mais aclamados do Maranhão, Carolina.

A CIDADE DE CAROLINA E A CHAPADA DAS MESAS

Carolina é um município brasileiro localizado no sul de Maranhão, à margem direita do rio Tocantins. Quase todos os pontos turísticos da cidade são compostos por atrações naturais, como cachoeiras, piscinas naturais, formações rochosas e paisagens em geral. A cidade de Carolina é a principal base para conhecer as atrações do polo da Chapada das Mesas, um dos atrativos mais importantes de todo o estado, onde estão presentes diversas cachoeiras e canyons.

As cachoeiras são responsáveis por grande parte do encanto que envolve a Chapada das Mesas. Formam poços de águas cristalinas, em coloração azul esverdeada, com águas em temperaturas muito agradáveis, o que determina o maior diferencial da região.

Ainda que a Chapada das Mesas seja um destino desconhecido por muitos, os turistas dizem se surpreender com a infraestrutura estabelecida ao visitar alguns complexos turísticos do destino.

Silvia Basile nos conta ter observado grandes diferenciais em sua viagem para Carolina.

Uma das principais características percebidas nos atrativos turísticos do município é possuir sistema de gestão de segurança bem elaborado e atenção a aspectos de segurança.

Outro diferencial do destino é o atendimento prestado pelos guias e condutores das atividades turística. De acordo com Silvia, existiam funcionários do próprio atrativo localizados em meio às trilhas, responsáveis por orientar e preparados para atendimento caso acontecesse algum acidente.

A sinalização turística nos atrativos naturais também se mostrou ser um ponto forte do município, especialmente no atrativo Refúgio Serra Torre da Lua, que é comercializado pela agência Torre da Lua Ecoturismo. Todas as atividades possuem painéis detalhando o percurso, com mapa, altimetria, nível de dificuldade, distância. Há também obstáculos naturais em meio às trilhas (troncos que impossibilitavam a passagem do visitante) sinalizando aos trilheiros o trajeto correto.

Então você deve estar se perguntando qual o segredo desse caso de sucesso em Carolina?

A solução é determinar o planejamento do destino. É importante ressaltar que atrativos naturais por si só, não são um produto turístico. Para isso é necessário estabelecer não só o atrativo natural, como também estratégias de planejamento de infraestrutura e de capacitação de guiamento de condutores.

Para conhecer melhor os produtos comercializados na Chapada das Mesas e processos de implementação das normas de segurança turística no destino, nós entramos em contato com a diretora da agência Torre da Lua, Cinthia Noleto, e com o consultor do Sebrae responsável pelo acompanhamento técnico, Kiko Alencar, buscando conhecer procedimentos utilizados.

ENTREVISTAS : O processo de implementação do Sistema de Gestão de Segurança

A empresa Torre da Lua Ecoturismo atua como agência de turismo receptivo há mais de 11 anos na região da Chapada das Mesas, sul do Maranhão e em Filadélfia, nordeste do Tocantins (divisa com Carolina – MA). As principais atividades comercializadas são: caminhadas, turismo fora de estrada, stand up paddle e cicloturismo. Segmentados em ecoturismo, turismo de experiência e de base comunitária.

Diretora da agência, Cinthia Noleto, diz estar em fase final de implementação do Sistema de Gestão de Segurança na Caminhada da Trilha Tributo no atrativo turístico denominado Refúgio Serra Torre da Lua, o atrativo mais renomado da empresa.

Cinthia, reconhecendo a importância de qualificar sua empresa, também nos conta como surgiu a iniciativa de implementação do Sistema de Gestão de Segurança conforme as normas ABNT em seus atrativos. Conta também suas dificuldades durante o processo.

“Assim que abrimos a empresa Torre da Lua Ecoturismo, há mais de 10 anos atrás, nos associamos a ABETA na expectativa de receber orientações e treinamentos específicos, mas na época as ações estavam muito voltadas para o sul do Brasil e acabamos saindo da associação. Havia também um programa do governo que tinha uma campanha chamada Aventura Segura, que orientava os turistas a procurarem empresas que adotassem as normas técnicas de segurança e que fizessem parte do Cadastur. Porém somente em 2018, através do Projeto de Turismo da Chapada das Mesas do Sebrae do Maranhão, que tivemos acesso a um consultor especializado nas normas e que nos ajudou com todo o processo. Foi sim, uma demanda dos proprietários. Os atrativos Pedra Caída e Poço Azul também foram assistidos.”

Cinthia Noleto, Torre da Lua

PROJETO DE SINALIZAÇÃO TURÍSTICA NOS ATRATIVOS DA EMPRESA TORRE DA LUA

A sinalização turística facilita o reconhecimento e o entendimento de obstáculos e perigos que existem em empreendimentos que fazem parte da atividade turística da região. Essas informações, além de boas práticas de segurança, fazem parte de obrigações legais previstas pelas normas ABNT de turismo de aventura.

Em agosto de 2018, a empresa Torre da Lua contratou através do Sebrae do Maranhão, o consultor Kiko Alencar para os orientar na implementação do Sistema de Gestão da Segurança com referência nos requisitos da norma ABNT NBR ISO 21101:2014.

“O intuito do Sebrae era apoiar microempreendedores através das consultorias gerenciais do Sebrae e do Sebraetec, onde existia uma ficha técnica de adequação da norma ISO 21101. E foi em uma palestra de empresários de turismo que senti essa necessidade de desenvolver o nível de consciência e nível de competência dessas normas técnicas nos municípios que abrangem a Chapada das Mesas. A partir disso, nosso projeto visava elevar o patamar das principais empresas da região” nos conta Kiko Alencar.

Cinthia explica que o Sistema de Gestão de Segurança é uma estrutura organizacional da empresa a qual envolve a aplicação de técnicas e o controle dos riscos garantindo, além de um melhor desempenho dos processos internos da empresa, a prestação de serviço com mais segurança e qualidade dentro de padrões normativos.

E foi dentro destes critérios, após o mapeamento de riscos, que a agência elaborou a sinalização da Trilha Tributo. A mesma foi dividida em cinco trechos, cada trecho foi sinalizado com um painel detalhando o percurso, com mapa, altimetria, nível de dificuldade, distância e foi fincada no percurso sempre indicando para o norte. Em sua base de apoio, onde há estrutura de banheiros, alimentação e hospedagem, também há um painel com o mapa de toda a propriedade e informativos das atividades desenvolvidas, e os graus de risco com suas especificações.

Esse projeto de sinalização turística foi um marco importante para a empresa. Segundo Cinthia, essas informações passaram maior credibilidade e confiança aos trilheiros.

“Como recebemos um público diverso com experiências e expectativas diferentes, quanto mais informações por escrito, percebemos que há menos ruído na comunicação e menos riscos também consequentemente.” Cinthia Noleto

Para Kiko Alencar, que participou ativamente do processo de sinalização, ainda há muita falta de consciência por parte dos atrativos turísticos espalhados pelo Brasil, quando o assunto são normas técnicas de classificação de percurso. Felizmente, a empresa Torre da Lua deu continuidade na fabricação e na instalação dessas placas. Como resultado final, Kiko nos conta ter se alegrado ao ver a trilha se adequando assertivamente às normas de segurança depois do projeto.

“Poder acompanhar o processo de sinalização turística me deixou muito animado. Essas placas são necessárias para o entendimento da consciência ambiental, também na alerta aos perigos e riscos ao cliente a fim de minimizar acidentes.” Kiko Alencar

OBSTÁCULOS NA IMPLEMENTAÇÃO DO SISTEMA DE GESTÃO SEGURANÇA

De acordo com as experiências adquiridas durante a carreira de consultor, Kiko Alencar nos conta que grande parte dos empresários não sabem por onde começar a implementar o sistema de gestão de segurança. Muitas das vezes esses prestadores de serviços turísticos se sentem muito distantes da implementação dessas normas. Ainda que existam manuais que facilitem o entendimento desse processo, microempreendedores têm dificuldade em destinar tempo para esta missão.

Cinthia compartilha alguns obstáculos encontrados na implementação do sistema de gestão de segurança. Ela diz ser um processo burocrático. O alto custo das certificações das atividades ainda é outra problemática encontrada pelos empresários. Contudo, a diretora diz entender a importância das normas e da aplicação delas.

O PAPEL DO PODER PÚBLICO EM RELAÇÃO ÀS EMPRESAS TURÍSTICAS DO DESTINO

Depois de todas essas informações, você deve estar curioso para entender de que forma o poder público deve apoiar a cadeia turística do seu município.

Conforme a experiência do consultor Kiko Alencar, muitos gestores públicos ainda não possuem nível de consciência quando o assunto são as normas técnicas de segurança. Nesse caso, o gestor é responsável por se informar sobre os protocolos relacionados a esse tema. São nesses documentos que estão os requisitos que determinam padrões de segurança no setor.

Esses conhecimentos são necessários na regulamentação do próprio município.

O gestor público é responsável por valorizar os empresários que têm interesse em se qualificar e seguir as normas e não só isso, como facilitar a certificação das atividades, pois a certificação é um diferencial competitivo para o destino a nível nacional e internacional.

Se você, gestor público, quer entender mais sobre as normas e legislação do setor de turismo em relação às atividades de aventura, conheça nosso artigo: REGULAMENTAÇÃO – Entenda o que o Decreto 7381 significa para o empresário de aventura.

Nós da AFV Consultoria podemos ajudar no processo de planejamento da segurança turística de acordo com sua necessidade específica. Nos contate para realizarmos o mapeamento de possíveis vulnerabilidades e resolução de problemas.

Sobre a consultoria

Silvia Basile

Constituímos, em 2002, a Associação Férias Vivas que já trabalhou na elaboração de 41 Normas Técnicas ABNT NBR de Turismo de Aventura, sendo 17 Normas Técnicas internacionais ABNT NBR ISO. Junto com embaixadores e parceiros, criamos assim padrões de qualidade e segurança nas atividades de turismo no Brasil. Em 20 anos de atuação na área de conscientização e prevenção de acidentes no turismo, esta vivência proporcionou aos consultores da Associação Férias Vivas a capacidade analítica e a experiência prática para a implantação de projetos de gerenciamento de risco em destinos de turismo. Nossa articulação com o setor público se faz eficaz ao comprovar que iniciativas de sensibilização e gestão da segurança são essenciais para o desenvolvimento responsável do turismo.

  • sbasile@feriasvivas.org.br