A segurança no turismo como fator de sustentabilidade

O Brasil, gradualmente, vem descobrindo a importância econômica do turismo, seja no mercado interno, criando empregos e estimulando a economia, como no mercado externo, na geração de divisas para o país. De há muito, essa conscientização tem proporcionado a outros países, mais atentos, efetivos ganhos, com aumento do produto interno bruto e da renda “per capita” de seus habitantes.

De certa forma, esse “atraso” se justifica, porquanto o turismo tinha, primordialmente, aspecto cultural, em que o visitante buscava obter conhecimento em museus, galerias de arte, igrejas, sítios arqueológicos. E, sendo o Brasil um país novo, sem o passado e patrimônio histórico e cultural dos europeus, não era tido como turístico.

Por outro lado, o turismo, na modalidade “diversão”, implicava em frequentar grandes parques temáticos, com sofisticados equipamentos tecnológicos de animação, o que também não possuímos.

O turismo de “praia e campo” sempre representou algo muito doméstico, familiar, influenciando apenas pontualmente, o comércio local.

Somente no último quarto do século passado, é que se iniciou uma transformação nos anseios do turista, não mais restrito aos aspectos culturais, mas sim, desejoso também de conviver com a Natureza, como contraponto ao mundo acentuadamente mecanizado e eletrônico que caracteriza o novo milênio. Trata-se de uma conseqüência previsível da valorização da ecologia e da contextualização do homem em seu “habitat”.

Essa tendência, que caracteriza o turismo contemporâneo, acabou por revelar a potencialidade do Brasil nesse setor, porquanto somos proprietários de uma extensão continental de praias, montanhas, florestas tropicais, campos, reservas ecológicas, recantos inexplorados.

Não se trata de mero turismo contemplativo. Busca-se muito mais do que simplesmente apreciar a paisagem. O turista quer interagir com a Natureza. Quer explorar seus atrativos. Quer se sentir parte do ambiente e testar seus limites. E quer emoção !

Daí o surgimento e impressionante crescimento do chamado “turismo de aventura”, em incontáveis modalidades como montanhismo, arvorismo, mergulho, canoagem, rafting, trekking, etc…

Organizações oficiais e não governamentais se preocupam – justificadamente – com os malefícios que essas atividades podem causar à Natureza e atuam no sentido de preservá-la, estabelecendo normas restritivas e divulgando e exigindo comportamento ecologicamente correto, não apenas dos usuários, mas principalmente, dos empresários do setor. Muito já se fez e muito ainda há a fazer para a conservação da Natureza e é desnecessário, aqui, discorrer sobre sua importância.

Mas, se essa preocupação tem seu espaço conquistado nas discussões do turismo sustentável, o mesmo não se verifica com a preocupação que deveria correr em paralelo, ou seja, a preocupação dos perigos que a Natureza pode trazer ao homem, desacostumado e inábil a interagir com ela, no seu estado bruto.

Nesse viés é que atua a ONG Férias Vivas. Busca-se complementar o fator “segurança” para que signifique segurança para os recursos naturais e segurança para o usuário desses recursos. São dois lados da mesma moeda e ambos componentes da sustentabilidade do turismo. A luta da nossa ONG se opera em várias frentes: conscientização do usuário, dos empresários e dos profissionais do setor e atuação junto a órgãos públicos oficiais para a normalização de regras de prevenção e segurança, destacando-se a participação na Camara Brasileira de Turismo, CB-54 da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT.

Com efeito, a interação com a Natureza não pode ser predatória. O turista não pode poluir as águas, sujar as matas, arrancar árvores, perturbar a fauna. Do contrário, acaba destruindo o próprio objeto de sua atividade. E, com a destruição, o turismo não se sustenta. Daí a importância de serem estabelecidas regras de utilização e padrões de comportamento junto à Natureza.

Mas não se deve descurar do outro aspecto da mesma verdade. Se não houver a implementação de medidas que visem à segurança pessoal do turista na sua interação com o meio natural, vão se multiplicar os acidentes (que já ocorrem em número elevado), desestimulando a prática do turismo-aventura, do turismo-natureza e, por via de conseqüência, desmoronando a sustentabilidade do setor. E o que é pior: colocando-se em risco real nosso bem mais precioso: a Vida!

Por Ieda Maria Andrade Lima
Conselheira e Assessora Jurídica da ONG Férias Vivas