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O DESCASO COM DUAS VIAJANTES NA CHAPADA DOS VEADEIROS

Durante viagens de aventura, onde se vai praticar alguma atividade específica como trilhas, é essencial fazer a contratação de um Guia de Turismo certificado ou de um Condutor de Visitantes capacitado pelo local. Este profissional irá organizar e fiscalizar toda a operação e ainda poderá prestar os primeiros socorros caso necessário.

Muitos turistas não acham necessário fazer a contratação dos serviços desses profissionais, pensam que é apenas um gasto a mais. Mas sem conhecer antes a região, não tem nem o que pensar: até mesmo pessoas que já são acostumadas a fazer trilhas podem se perder ou visitar sem saber áreas perigosas, mergulhar em cachoeiras com correntezas e sofrer algum acidente durante a atividade.

Sabendo disso tudo, as viajantes Iria e Yasmin decidiram pela contratação de um condutor local da Chapada dos Veadeiros. Confiando que assim teriam sua experiência potencializada e poderiam aproveitar as belezas do local com tranquilidade.

Mas, infelizmente, alguns guias e condutores ainda não entenderam a importância do seu trabalho. Durante o percurso, Iria e sua amiga sofreram um acidente e foram abandonadas pelo Condutor. Como nos relatou, Iria participava da trilha para a Cachoeira do Segredo, com um grupo de amigos, conduzidos por Devon, Condutor de Visitantes formado por uma associação que é referência local na capacitação desses profissionais.

O RELATO DE IRIA NA ÍNTEGRA

“Ao final de 2018 – início de 2019,  fui à Chapada dos Veadeiros com meu namorado. Chegando lá contratamos o guia Devon por indicação de uma amiga nossa, que já havia feito a viagem. Devon é um gringo que veio morar no Brasil e faz 4 anos que ele mora na Chapada dos Veadeiros. Ficamos 10 dias na Chapada e acabamos optando em fazer todas as trilhas com ele, mesmo não precisando de guia em algumas trilhas, porém queríamos fazer um bem. Até então tudo tinha corrido bem, apesar de termos notado uma falta de atenção dele em alguns momentos e também dispersão em partes da trilha.
No dia 04 de janeiro, que era nosso último dia, encontramos um grupo de 7 amigas e resolvemos fazer a trilha da Cachoeira do Segredo. Algumas das amigas já haviam feito a trilha e falado que não tinha necessidade de guia, mas mesmo assim contratamos novamente o Devon, por precaução. Desta vez, tudo correu completamente diferente do que o esperado.
Ao início da trilha, minha amiga Yasmin tropeçou e caiu de cara em uma pedra ao atravessar o córrego. Instantaneamente seu supercílio abriu, o corte foi muito profundo e não conseguimos estancar o sangue. O guia Devon prestou socorro, realizando um curativo com materiais bem básicos de primeiros socorros que havia levado (gaze e esparadrapo apenas) – não tinha antisséptico nem produtos para assepsia do local. Mesmo assim, resolvemos continuar a trilha.
Alguns minutos depois eu pisei em falso e desloquei a patela. No momento, o guia não estava presente – pois saia correndo na nossa frente em diversos momentos da trilha, nos deixando sozinhas (algumas vezes para fumar maconha). Eu mesma coloquei o joelho no lugar, GRITANDO de dor. O Guia então, após uns 10 minutos, apareceu dizendo que faltava pouco para chegarmos na cachoeira, me incentivando a continuar a trilha. Em momento nenhum me carregou ou auxiliou, continuou andando na frente enquanto meu namorado me acompanhava em um ritmo mais lento. Um outro guia, mais preparado, que estava de passagem, prestou socorros, emprestando um tensor para o joelho e um cajado para me apoiar.
Após mais uma hora de caminhada, chegamos à cachoeira. Eu e meu namorado bem depois das meninas e do guia – pois viemos em um ritmo menos acelerado. Tive muitas dores e dificuldades para chegar e só continuei, pois o guia havia dito que faltavam apenas 15 minutos de caminhada e que o percurso era tranquilo (o que também não era verdade – cheio de pedras e desnivelado).
Ficamos pouco na cachoeira e ele disse que arranjou uma carona para Eu e Yasmin (a outra amiga machucada), mas que cabiam apenas 2 pessoas no carro. Ficamos para trás eu, Yasmin, ele e meu namorado e ele mandou as meninas irem na frente e esperarem em um ponto X – dispersando o grupo (lembrando que lá não existe sinal de celular e a comunicação ao se separar é quase impossível). Nisso chegamos ao ponto de encontro com as meninas e elas não estavam lá – pois estava chovendo muito forte. Dissemos ao Devon que elas provavelmente já deveriam estar voltando para o Carro, por causa da chuva.
Ao invés dele nos acompanhar até o outro estacionamento, ficou mais preocupado com as meninas “perdidas” que estavam 100 % bem e seguras do que comigo e com a Yasmin, que estávamos com ferimentos fortes. Fui andando então somente eu e Yasmin em direção ao outro estacionamento, o qual o Devon disse que haveria um guia nos aguardando para nos levar ao Pronto Socorro de Alto Paraíso de Goiás. Chegando lá no estacionamento não havia NINGUÉM, apenas 1 carro estacionado.
Esperamos por cerca de 3 horas sozinhas, sem água, comida, nem comunicação e ainda por cima extremamente debilitadas. Começou a escurecer e decidimos então andar pela trilha deixada por carros até que encontrássemos uma carona. Andamos por mais 2 horas e meia, forçando meu joelho até o seu limite. (No total desta jornada toda acabei andando no total quase 18 km desde o momento em que eu me machuquei).  Até que GRAÇAS A UMA LUZ divina, o carro que estava estacionado passou por nós, imploramos uma carona e eles nos acolheram, nos levando para o Camping – isso já eram 20 horas da noite, as nossas amigas bem como meu namorado já tinham voltado para o Camping, tomado banho, jantado e achando que estava tudo bem conosco, que estávamos amparadas no Hospital.
Em nenhum momento o guia nos acompanhou, conferiu se estávamos devidamente socorridas e bem cuidadas. Foi “curtir a brisa” com nossas amigas, enquanto nós estávamos passando necessidades básicas, machucadas no meio do nada, sem sinal.
A situação foi desesperadora, mas no fim tudo correu bem. Chegando no hospital quase 21 da noite, sem ter comido, nossas amigas e meu namorado ficaram indignados com tudo que tinha acontecido e com o despreparo do guia de ao menos se certificar que estava realmente tudo certo com a carona. O guia ainda apareceu no hospital e queria bater boca, que a carona estava sim lá e que o erro foi nosso e de nossas amigas de não estarem no local combinado. Ele seguiu batendo boca via Whatsapp e quando apontamos os seus erros ele apenas deixou de responder.
Hoje, 2 meses depois, minha amiga Yasmin ficou com uma cicatriz no supercílio, pois não chegou a tempo no hospital para dar pontos. Felizmente não teve nenhuma infecção nem nada mais sério. Já o meu caso, não foi tão “feliz”. Acabei rompendo meu ligamento patelar, por ter forçado tanto após o deslocamento, estou até hoje fazendo fisioterapia sem poder me exercitar. Fiquei 1 mês e meio com o joelho imobilizada sem sair da cama, no qual minha perna atrofio toda, perdendo todos meus músculos e tendo 7cm de diferença de espessura de uma perna pra outra. Além de ter tido um prejuízo psicológico e físico, tive altos gastos financeiros por conta da lesão!
Este relato não tem como objetivo difamar ninguém, mas sim alertar sobre a falta de profissionalismo, seriedade e empatia do guia. Que mesmo sabendo de tudo que passamos, não conseguiu enviar 1 mensagem para perguntar se estávamos bem após o ocorrido. A lição que fica é: procure saber dos guias que contrata conversando com a população local. Só contrate guias com certificação e reconhecimento. Depois, quando nossa história se espalhou pela comunidade, descobrimos que não foi o primeiro erro do Devon, que já havia vários processos e queixas da falta de preparo dele. A Natureza é linda, mas também muito perigosa, todo cuidado e pouco, ainda mais se você está pagando para um profissional qualificado te acompanhar!”

A Iria acabou gastando por volta de R$10.000 com despesas médicas e mudanças de planos por causa da lesão. Acabou se prejudicando bastante financeiramente por causa disso. Sem contar a viagem dos sonhos, que resultou nessa triste constatação, de que ainda há muito despreparo e descaso dos guias de turismo e condutores que encontramos por aí.

RESPONSABILIDADE DO PROFISSIONAL DE TURISMO

Além de guiar e conduzir, profissionais de turismo devem zelar pela SEGURANÇA de seus clientes, acompanhando, orientando, e verificando o bem-estar a todo momento.

Abandonar uma pessoa machucada, em um local que ela não conhece e não sabe os riscos que pode estar correndo, passa longe da atitude que um profissional responsável deve tomar, é inaceitável que existam profissionais que ajam desta maneira.

O trabalho de Guia de Turismo e Condutor de Visitantes é coisa séria que requer muita responsabilidade, estes profissionais estão lidando com a vidas de pessoas que confiam neles, que os contratam para que possam aproveitar um momento de lazer em segurança.

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